quinta-feira, 20 de março de 2014

Indo ver Elismara e o moleque

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Notícia: Presos almoçam na calçada enquanto aguardam entrada em CDP
Fonte: G1
Data: 20/03/14
Nível do conto: 1
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- A gente já acordou de madrugada, saiu bem cedinho de São Roque. Todo mundo indo transferido pro CDP lá de Sorocaba.
Quando a gente chegou lá foi treta. Os homem tudo de greve, não deixou entrar ninguém.
E a gente fechado em caminhão, igual bicho, mano!
Neguinho começou a passar mal lá dentro, aí não teve jeito, foi todo mundo pra calçada.
Pelo menos ganhamo comida, tá ligado?
Porra, velho, eu aqui nessa calçada, esperando os cara parar de babaquice pra gente entrar de uma vez? Que se foda!
To aqui perto de Elismara, cê acha que eu não vou dá um jeito de colar lá e ver meu filho?
Tava tanta muvuca que ninguém nem percebeu.
Fui andando na avenida mesmo, andando normal tá ligado?
Não dei brecha de correr não.
E ninguém veio atrás de mim.
Andei pra carai, suei igual porco mas cheguei.
A minha sogra embaçou quando viu que eu tava lá e não me deixou entrar.
Achou que eu tinha pulado o muro da cadeia.
Falei da porra da greve, que tava todo mundo na calçada.
Aí que ela viu que deu no jornal essa porra.
Fui entrando e a Elismara tava deitada.
Eu não sabia e já fui gritando ela, e a véia atrás enchendo o saco.
Ela levantou meio zoada e assustou comigo lá.
Puta saudade que eu tava dessa mulher mano!
Ela já segurou na minha mão e me levou pra ver o moleque.
Rodrigo.
Moleque enorme, bonito, forte.
Chorei, mano! Chorei pra carai de ver meu filho, porra!
Queria mais sair de perto deles não.

- E aí que que pegou, véio?

- A desgraçada da mãe dela ligou pros homem ir me buscar. Chegaram lá me algemando e eu voltei, mano!

- Que zica, mano! Pior que essas porra de fuga aumenta a pena.

- Eu sei, mano... Eu sei... Mas hoje foi o dia mais feliz da minha vida!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Com que dinheiro, Sofia?

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Notícia: Ricaços exibidos causam inveja com fotos de vida luxuosa no Instagram
Fonte: R7 
Data: 05/07/13
Nível do conto: 1
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Há quem diga que se nada é feito para multiplicar uma fortuna ela não passa da terceira geração de quem a conquistou. E foi exatamente o que aconteceu na família de Sofia. Neta de um milionário do ramo metalúrgico, as despedidas de seu pai sempre eram parar desejar uma boa viagem, nunca um bom trabalho. "Boa vida" completo, o pai de Sofia vendia participações acionárias da empresa que herdou e gastava sem pensar, principalmente, que um dia os recursos financeiros não se renovariam tão facilmente. Desse modo, ensinou a filha desde cedo que gastar era mais importante do que ganhar dinheiro.

Bastaram alguns anos para as dívidas começarem. A mansão foi trocada por um apartamento mais modesto, os carros na garagem reduziam em quantidade e o jatinho particular já era de outro dono.

Os pais de Sofia se preocuparam bastante em como ela encararia a nova situação financeira. Acontece que ela não pareceu se abalar com isso. Era até um pouco tarde demais para mudar Sofia. A jovem passou seus 20 anos sem que existissem limites para seus gastos, colecionando as melhores viagens, as companhias mais agradáveis, as jóias e roupas mais caras. Não havia outro mundo para ela.


Alguns amigos de Sofia costumavam brincar que se juntassem os seus perfis no Instagram seria possível obter o PIB de um pequeno país asiático, tamanha era a ostentação. Ela sempre postava todos os seus luxos nas redes sociais, muito embora escondia a falência da família. Nem seus melhores amigos sabiam da situação.

O que a família de Sofia não conseguia compreender era como o padrão de vida da garota não havia mudado, já que apesar de ter amigos muito ricos eles não tinham o hábito de pagar pelos gastos dela. Também não havia nenhum namorado ou pretendente rico no momento.

Prostituição? Não, Sofia não seria capaz.

Conversar com ela sobre o assunto não adiantaria. Sofia sempre evitava falar da situação familiar e cada vez que os pais tentavam ela desconversava e se irritava bastante. Por conta disso, ela passava cada vez menos tempo em casa, ficando dias sem dar notícias.

Na última vez, porém, a situação ficou ainda mais preocupante. Sofia não entrou em contato por mais de três semanas. O telefone estava desligado, as redes sociais sem qualquer postagem. No Instagram, a última foto já tinha muitos dias e ela estava no Rio de Janeiro.

Os pais telefonavam para os amigos de Sofia, mas nenhum deles atendia às ligações. Os poucos que o fizeram se recusaram a falar sobre ela. Cada vez mais desesperados, eles foram até a casa de uma das melhores amigas de Sofia, Beatriz. Bia, como era chamada, percebeu a aflição dos pais de Sofia e os recebeu. Ela explicou que todos os amigos se afastaram e não falam mais sobre a garota desde a ida ao Rio.

Durante a viagem, os amigos descobriram que Sofia estava roubando suas coisas. Jóias, objetos de decoração e até dinheiro e cartões foram levadas. Ela foi pega justamente enquanto usava o cartão de crédito de uma das amigas às escondidas. Depois de uma longa briga, Sofia foi denunciada e detida na capital carioca. Beatriz não sabia ao certo o que havia acontecido depois disso, mas acreditava que Sofia não estivesse presa.

Usando um pouco do limite de crédito que ainda sobrava nos cartões, os pais de Sofia conseguiram ir até o Rio de Janeiro para ter notícias da filha. Beatriz sabia apenas em qual delegacia a ocorrência foi aberta e essa informação foi suficiente para que os pais fossem até lá.

O delegado se recordava do caso da jovem detida e informou que ela não estava mais presa. Estava, porém, internada em um hospital psiquiátrico. No depoimento de Sofia constava que ela se chamava Isabel e sofria de uma depressão muito forte. Por conta disso, desenvolveu o costume de roubar coisas. Tudo era culpa da cleptomania e ela precisava de tratamento.

Como Sofia não estava com nenhum documento e aparentava muita confusão, ela foi encaminhada para o hospital enquanto o paradeiro de seus familiares era buscado.

O delegado encaminhou os pais de Sofia para o hospital. Chegando lá, ela chorou muito ao vê-los, mas em seguida fingiu não lembrar-se deles.

O pai foi muito rígido com Sofia, pois sabia que ela estava mentindo. Após muita pressão ela confessou que roubava os amigos para manter o padrão de vida que levava, pois não aceitava a falência da família e sentia vergonha de todos eles.

Após ser descoberta, sua última atitude para evitar uma vergonha maior foi se fingir de louca e jogar seus documentos fora. Assim, ela ficaria reclusa até que as pessoas se esquecessem dela.

Muito decepcionados, os pais de Sofia tentaram se responsabilizar pelo tratamento para poder levá-la embora. Como ela foi processada pelos roubos, a sua saída foi negada e ela continuaria em tratamento psiquiátrico por tempo indeterminado. Depois disso, ainda havia a chance de condenação pelos crimes.

No fim das contas, a situação se tornaria muito cômoda para todos. Sem precisar bancar o tratamento e sem precisar sustentar os luxos da filha, foi até mais interessante para os pais que Sofia continuasse lá.

De um lado, ficou a desculpa de que Sofia estava em um intercâmbio na Ásia. Sim, em um daqueles pequenos países que ela tanto zombava. Era até uma forma de manter o prestígio da família.

Do outro, ela insistia na loucura. Ainda se chamava Isabel e não sabia onde estava sua família. Assim ela estaria bem cuidada, longe da cadeia, do vexame e do Instagram. Em algum tempo ela poderia se dizer curada e com o processo esquecido, pronta para recomeçar sua vida.

Mas, Sofia, com que dinheiro?