sexta-feira, 6 de junho de 2014

Já não era o mesmo junho de sempre

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Notícia: Ruas de São Paulo já estão decoradas para a Copa do Mundo
Fonte: G1
Data: 20/05/2014
Nível do conto: 3
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Foram mais de 60 anos morando na mesma casinha, em uma rua sem saída na Vila Mariana. Ali, todos os anos, Dona Benedita ajudava a organizar uma animada festa junina.

A festa durava dias e já começava nos preparativos: os adultos colocando bandeirinhas e as crianças correndo em volta, soltando bombinha e ensaiando uma quadrilha desorganizada.

Dona Benedita gostava mesmo era de preparar as comidas, dos doces aos salgados, mas ainda assim não resistia e ia a todo momento até a janela espiar a animação que estava na rua.

O cheiro gostoso que vinha da cozinha, o barulho da risada das crianças... Todo ano era assim, uma alegria só! E Dona Benedita guardava em si essa alegria por todo ano. Junho era o seu mês preferido.

E o tempo foi passando, as crianças foram crescendo, mas nada disso fez morrer a tradição. Começaram a aparecer os netos, as crianças das outras ruas, os novos moradores da região e, por isso, a animação era sempre a mesma.

Acontece que no início desse ano Dona Benedita ficou viúva e, tanto a idade avançada como os problemas de saúde já não permitiam que ela mais morasse sozinha por ali.

Assim, ela acabou indo morar na casa de uma de suas filhas, na Zona Leste.

A adaptação não foi tão ruim, mas a saudade sempre batia. Quando junho chegou, então, foi ainda pior. Seria o primeiro ano em que não ajudaria na festa junina da rua. Pelo visto ia ser bem difícil o seu mês favorito passar.

Em um domingo, enquanto lia em seu quarto, Dona Benedita ouviu bastante barulho vindo da rua. Ela se levantou e foi até o portão espiar.

Diversas pessoas, adultos e crianças, pintavam o chão da rua com as cores da bandeira do Brasil. Desenhavam faixas, brasões e bolas. Amarravam fitas e bandeiras nos postes.

Mas não, aquela não era a sua festa junina... Já não era o mesmo junho de sempre.

Ainda assim, Dona Benedita viu ali a mesma empolgação, o mesmo espírito festeiro de sempre, só o motivo era diferente. Ficou ali parada por um bom tempo, admirando a movimentação.

Até que a angústia foi dando lugar à uma nostalgia muito gostosa. Ela entrou e foi para a cozinha preparar um bolo de chocolate.

O cheiro vindo da cozinha e o barulho vindo da rua foram fazendo um bem danado para Dona Benedita.

Já não era o mesmo junho de sempre. Mas a alegria continuava ali com ela.

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