quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Dilmeu e Juliécio

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Notícia: Um monte delas!
Fonte: Todos os sites e redes sociais.
Data: Segundo semestre de 2014.
Nível do conto: 1
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Estes não são os nomes dos noivos. Vou preservar as identidades originais por motivos de "você vai entender logo mais".

19 de Outubro de 2014, uma da tarde. Era o que dizia o convite.


Doze anos de namoro.
Quase oito fingindo que tudo não passava de uma amizade e outros três anos esperando o pai de um deles, vereador, fumante e homofóbico bater as botas.
Foi tarde. E, finalmente, estava marcada a data.

Uma cerimônia ecumênica e simples, para poucos convidados.
Até porque a maior parte das famílias se recusou a comparecer no evento.

- Imagina, coisa de bicha!

E os que confirmaram presença não eram lá grande coisa também. Uma gente metida a moderninha e engraçada. Percebi em dois minutos de observação.

Ah, só pra constar, eu não sou parente de nenhum dos dois.
Sou aquele conhecido, convidado por educação depois que uma amiga em comum comentou sobre o casamento em um happy hour. Ficaria bem chato não chamar o outro gay da mesa para o momento "case-ei e você nã-ão". Aff... Mas fui!

E fiquei ali, atento a tudo.

Lugar apertado e quente.
Pleno domingo à tarde, horário de verão... Cruzes!

Decoração bem cafona, pra mostrar que pagaram caro pelo momento.
Caminho de pétalas de rosas até o altar improvisado.
As iniciais dos noivos em um painel enorme. E uma foto dos dois formando um coração com as mãos.

Te juro.

Pelo menos foram pontuais.

Primeiro, entra um yorkshire tosco que se distraía com os arranjos no caminho e parava.
Imagina o constrangimento da cerimonialista guiando o caminho do cachorro.

Logo atrás vieram os noivos. Smokings prateados e iguais. Nem vou descrever mais. Já é o bastante.

Trilha instrumental do Kenny G. Versão genérica. Aqueles MIDI, som de teclado.
Um longo caminho de arranjos bregas e telefones fotografando.
Sensação de que durou dois anos a chegada dos dois ao altar.

O mestre de cerimônias devia fazer parte do lado engraçadão da família. Foi começando com um sorrisinho de lado e o manjado "se alguém aqui tiver algo contra este casamento, fale agora ou...". Blé.

Ele só não esperava que o primo gordo que estava na fileira do meio se levantasse com a testa suada brilhando e dissesse:

- Toma cuidado hein primão, esse aí é eleitor do Aécio! Vi aqui no face que ele é violento, vai que o maridão resolve te sentar a mão também.

Silêncio.

Uma esquisitinha fantasiada de bolo de aniversário virou seu dedo torto para o gorducho e disse:

- Quem tem que ter cuidado não é ele. É o outro, puxa-saco do PT, que com certeza comprou as passagens de lua de mel pra Cuba, só pra dar um jeito de encher o bolso dos cubanos também.

Nessa hora um cupcake de Nutella passou voando e pousou no penteado em dois andares da menina-bolo.

- Cala a boca! Se dependesse dos petralhas ou dos tucanos eles nem iam poder se casar agora!

Quem mandou o míssil raivoso (e o bolinho) foi um rapagão alto e barbudo com uma tatuagem de âncora do canto da cabeça.

O mestre de cerimônias ficava tentando abrir a boca para continuar o discurso. Mas não rolava.
Cada convidado tinha uma ofensa pronta pra um partido. Sobrou até pro Eymael, coitado.

Estranhei uns crentes perdidos ali defendo o Feliciano, mas ok, viva a diversidade mesmo assim.

Foram mais de 30 minutos e uns 18 cupcakes para apaziguar os ânimos.
Pois é...

Mas desagradável mesmo foi ver que o buffet não tinha carne, era tudo à base de soja. Era tanta planta morta que se a Marina Silva tivesse participado com certeza ia sair aos prantos e justificar que foi por isso que retirou o apoio ao casamento gay do programa de governo dela.

Cinco da tarde e todo mundo já tinha ido embora. Eu, inclusive, que passei a tarde toda mexendo no telefone porque não tinha com quem conversar. A amiga em comum fez o favor de nem aparecer. Se bem que ela (que também é metida a politicona) teria sido a primeira a jogar um cupcake no gordo brilhante ou no varetão-pirata-socialista.

Mas era um casamento né? E o casal?
Sei lá. Só sei que voltariam no dia 24 da lua-de-mel e resolveram ficar mais uma semana por lá.

Depois dessa, a melhor forma de esquecer o papelão político era ter uma desculpa pra justificar o voto.

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